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Foto do escritorRaissa Teles

Templo da Água Salgada | Introdução

O oceano está mudando minha vida e a mim mesma. Após seis anos vivendo em veleiros e bebendo diretamente da medicina do mar, decidi que é hora de compartilhar o que aprendi até então. Bem-vindos a bordo de uma série de textos que resumirão os principais valores, princípios e leis que o oceano me ensina sobre a vida na Terra.


Nossa primeira casa flutuante, Mintaka, velejando a costa do Brasil. Foto por: Bruna Arcangelo


Desde que me lembro, sou uma buscadora curiosa e comprometida, na intenção de acessar o real e simples significado de estar viva e de como posso me tornar uma pessoa melhor. Uma buscadora da paz interior e de fazer o bem ao mundo. Tenho sede de sabedoria e verdade, dedicada a pesquisar a dupla que rege este Planeta: o medo e o amor. Sou uma praticante humilde do caminho do autodomínio, evoluindo junto dos fracassos, aproveitando a jornada (na maioria das vezes), entusiasmada em compartilhar e aprender com outras almas comprometidas.


Essa busca me levou a todo tipo de experiências, lugares, gurus, treinamentos, estudos e práticas. Bebi um pouco de diversas fontes de religiões e linhagens espirituais, medicinas da floresta e xamanismo, meditação e yoga, psicologia e coaching, escolas místicas e sabedoria oculta, e muito mais. Todas elas me deram muito, me ensinaram muito, e algumas ainda fazem parte das minhas práticas diárias e estudos contínuos. E claro: ainda há muito mais por vir.


No entanto, o que sinto e aprendo junto do oceano é diferente.


E sabe por quê?


Porque tudo o que aprendi (e ainda aprenderei) da lista acima - dos gurus, livros e práticas, das teorias e filosofias, eu posso realmente sentir e compreender através da experiência quando estou no mar. Não digo compreender apenas com meu corpo mental, mas com meus corpos físico, emocional e espiritual.


Notei que o mar é para mim o tradutor e mensageiro do caminho da paz interior e da reconexão com quem somos.


Fui ao mar em busca de presença, conexão e um novo sentido de estar viva. Naquela época, no final de 2017, haviam muitos ruídos em minha mente, interferindo na forma como eu me relacionava comigo mesma, com os outros e com o mundo.


Eu queria descobrir o que estava além do meu ego, além dessa identidade à qual me sentia tão apegada, além dos dramas do meu eu inferior.


Em 2018, meu parceiro e eu seguimos um instinto, um impulso da alma, uma força invisível que nos puxava para o oceano, e mesmo sem saber velejar, compramos nosso primeiro veleiro.



Mintaka é o nome de uma estrela e do nosso primeiro lar no mar. Foto por Bruna Arcangelo


Não demorou muito para eu entender o porquê de estar lá. Na primeira vez que estive em uma travessia noturna a bordo da minha própria casa flutuante, percebi a solitude interconectada de ser o ponto mais minúsculo absolutamente integrado àquele imenso corpo de água maiúsculo que me cercava.


Nada do que eu praticara antes alcançou aquele estado simples e poderoso de conexão com meu eu superior e uma consciência suprema - alguns chamam isso de "Deus", uma força invisível que orquestra perfeitamente o milagre de toda a vida na Terra.


Essa mesma força de criação pode ser encontrada dentro de nós e em todos os lugares - sim, tudo é uma manifestação desse tal Deus.


Como o oceano ocupa cerca de 70% do território da Terra (!!!), percebi que o oceano é a maior porção de Deus que posso não apenas tocar, ver e sentir, mas onde também posso viver, para assim talvez despertar a deusa que há dentro de mim.

Para mim, o mar é o lugar onde o abstrato se torna concreto - ironicamente, cercado por um corpo líquido. É o lugar onde a confusão interna se dissipa em meio ao caos externo.


O lugar de incorporação da sabedoria compartilhada de oeste a leste ao redor deste globo.


O lugar onde conceitos difíceis são compreendidos através da simplicidade e da prática.


E lá está ele: livre, disponível, gigantesco e tão desconhecido e desabitado por nós.


O oceano se tornou meu Guru, o único Guru sem ego que encontrei até agora.


Ela é meu guru porque está constantemente me ensinando como transitar da escuridão e ignorância (gu) para a luz e sabedoria (ru), e onda após onda, ele está me ajudando a quebrar as pedras duras do meu ego.


Ele também é o templo, porque está constantemente me acolhendo e me dando as boas-vindas, liderando o caminho para me reconectar com a fonte.


O oceano é o útero da Mãe Terra, de onde todos viemos.

Retornar à ele é, portanto, uma oportunidade de lembrar quem eu sou, quem somos.


E não apenas lembrar quem somos, mas por que viemos aqui: para aprender a amar.


No real já sabemos, pois NÓS SOMOS amor. Mas devido à desconexão em massa com nossa natureza (dentro e fora) e à repetição de toneladas de ações baseadas no medo, tanto no nível individual quanto coletivo, estamos distraídos do amor.


Então: o amor é a missão.


E como o amor é a força que conecta à todos, e o oceano é também o líquido que conecta toda a vida na Terra, pensei que - talvez - se eu criar intimidade com o mar, posso aprender sobre o amor, sobre mim, sobre nós e sobre Deus. Ou seria tudo isso a mesma coisa? ;)


Alguns vão para a universidade. Outros para a igreja.

Eu fui para ambos. Não me serviu muito. E não me leve à mal, pois reconheço a importância deles.


Mas na minha própria experiência, não há instituição que me ensina tanto quanto o mar.

Hoje, estou me reencontrando no grande azul.


Navegar o oceano me apresenta uma medicina que vale a pena compartilhar.


Um medicina que me ensina a navegar melhor pela vida, enfrentando tempestades e colhendo tesouros preciosos, descobertos tanto na superfície quanto no fundo de mim mesma.


O caminho do mar me ensina sobre as Leis da Natureza, aquelas que governam tudo e todos, desde as estrelas até o menor dos átomos.


Descobri que não apenas o conhecimento, mas a aplicabilidade dessas Leis em nossas vidas, é o que dita se vivemos em harmonia e geramos amor e paz, ou se vivemos entorpecidos, desconectados e machucando a nós mesmos e aos outros.


O oceano me coloca em contato não apenas com as leis da natureza, mas também me ensina todo um conjunto de outros princípios e valores que acredito serem necessários para todos nós, aqueles prontos para mudar para um novo paradigma de vida na Terra, deixando um legado melhor para as próximas gerações.


A natureza líquida do oceano, a da impermanência, abundância, poder e mistério, tem me ensinado a despertar a minha natureza e atrofiar a Raíssa domesticada que cresceu na cidade, longe de si mesma.


Templo da Água Salgada é uma série de textos dedicada a compartilhar as leis da natureza e os princípios ensinados pelo mar, que acredito serem importantes para nós, humanidade, em tempos em que uma revolução de dentro pra fora é urgente.


Minha intenção é te convidar a navegar junto de mim pelas águas deste Templo da Água Salgada, bebendo a porção da medicina do Oceano que lhe cabe agora, e aplicando tais ensinamentos em sua vida diária, assim como eu faço com a minha.


Com amor,

Raíssa

87 visualizações3 comentários

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3 Comments


Quanta mensagem profunda e que nos atravessa de forma tao reflexiva 🤍

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arrepiei com essa conexão divina por meio do maior corpo na Terra!

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Texto lindíssimo! Aqueceu meu coração e me deu saudade do mar <3

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